Futurem-se ou não. Mas modernizem-se

Edmilson Rodrigues
3 min readAug 31, 2019

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Recentemente fui aceito no mestrado em Ciências da Computação da UFPE, que começou há pouco mais de duas semanas.

Campus da UFPE

Um dos acontecimentos mais marcantes para mim foi a reação da comunidade acadêmica ao anúncio do corte de R$300Mi do CNPQ. Todo mundo está muito arretado, e com razão.

Só para clarificar… Eu também acho um absurdo o que esse governo está fazendo com a produção cientfica nacional (link: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/05/gestao-bolsonaro-corta-bolsas-de-mestrado-e-doutorado-em-todo-pais.html) . Caso queira colaborar com o abaixo assinado, favor clicar aqui: https://www.change.org/p/somos-todos-cnpq

Mas o que me marcou mesmo foi a reação da comunidade sobre uma sugestão que eu dei: “Se cancelarem sua bolsa: uma possível opção é empreender!”

Alguns começaram a discordar respeitosamente, e aí eu concluí que, de fato, empreender não é a solução para todos pois nem todo mundo tem o perfil, o desejo, ou a tolerância ao risco.

Mas aí eu sugeri uma idéia de criar-se um portal para conectar os bolsistas com empresas que podem financiar as bolsas, para os pós-graduandos não perderem suas pesquisas. Resumi a idéia nesse site que fiz rapidamente.

Então, meus colegas ficaram ainda mais revoltados e nos 29 emails que seguiram, sugeriram que eu fui “oportunista”, “com discurso de marqueteiro”, que estava “abusando da ignorância” e que “não tinha empatia pelo que os colegas estavam passando”.

Quero lhes assegurar que não se trata disso.

Eu tenho o maior carinho pela UFPE. Afinal, é minha casa, minha Alma Mater. Como disse em minha aplicação ao mestrado: Eu vi o mundo, mas, para mim, ele começou na UFPE.

O mundo é muito mais complexo do que a vida na universidade ou as narrativas políticas nos levam a acreditar. A narrativa de Esquerda x Direita ou Patrões x Empregados, não faz sentido no mundo real. Se for numa empresa sadia, patrões e empregados são só um grupo de pessoas trabalhando juntos em prol de um objetivo.

O que pude observar em apenas algumas semanas de volta à minha querida UFPE é que até mesmo no CIN — o centro mais empreendedorexiste um grande Tabu da academia em aproximar-se do mercado.

Até agora vocês não precisaram tanto, pois tinham o Governo através do CNPQ como principal financiador. Mas todo empresário sabe que é um ENORME risco ter um único cliente, pois se ele deixar de ser seu cliente, você morre.

Bem… A realidade acabou de bater à porta das Universidades e Institutos Federais: O único cliente de vocês está lhe despedindo. “Reality hits you hard, bro…

O que nós vamos fazer?

Eu também acho que devemos educar a sociedade para a importância da Ciência e dos resultados obtidos na academia. Também acho que devemos lutar politicamente para que o corte não seja tão profundo. (Você já assinou o abaixo-assinado: https://www.change.org/p/somos-todos-cnpq ? )

Mas porque não também diversificar nossas fontes de receita e ir em busca de empresas para ajudar a financiar nossas pesquisas?

Na minha humilde opinião, nós temos um recurso fabuloso que é muito subutilizado. Grande parte dos gestores de grandes empresas de Pernambuco ou empreendedores do Porto Digital são alumni da própria UFPE. Assim como eu, eles têm uma ligação emocional com a universidade. Podemos começar por eles.

Mas primeiro nós temos que vencer o medo e preconceito que os membros da academia têm para com o mercado. Os empresários são só pessoas. E muitos deles são seus ex-alunos / ex-colegas ou futuros colegas.

Então, não importa se formos aderir ao programa Future-se ou não. Mas é imperativo que comecemos a nos modernizar. Começando com a forma como enxergamos nossa relação com o mercado.

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